Em três das últimas cinco temporadas, Felipe Massa apresentou um desempenho muito superior nas provas da segunda parte do ano. As explicações para o crescimento são diferentes em cada um dos anos. Em 2014, por exemplo, bastou ele se livrar dos acidentes para triplicar seu aproveitamento
Três pódios, muita festa no Brasil e a luta pela vitória no GP de Abu Dhabi: Felipe Massa terminou a temporada 2014 do Mundial de F1 em alta, e fazer uma segunda metade de campeonato bem melhor que a primeira não é exatamente uma novidade na carreira do piloto brasileiro. Nas últimas cinco temporadas, ele cresceu na segunda parte do ano em três — 2010, 2012 e 2014 —, sendo que essa ascensão foi vertiginosa em 2012 e 2014.
As explicações são distintas.
Existe uma diferença grande entre o que Massa fez em 2012, ainda com a Ferrari, e o que fez em 2014, no primeiro ano com a Williams. Ao mesmo tempo, é simples: em um desses anos, ele se comportou como piloto top de linha.
Felipe Massa terminou a temporada 2014 com moral (Foto: Getty Images)
Há dois anos, o pior Massa se apresentou durante seis meses. Por todo o primeiro semestre, ele foi muito mal. O carro era péssimo, mas Fernando Alonso ia dando conta de extrair bons resultados e até mesmo duas vitórias enquanto ele somara somente 23 pontos. Quanto a Massa, Luca di Montezemolo chegou a dar um ultimato. Demorou para que ele colocasse a cabeça no lugar, o que ocorreu no GP da Inglaterra, e a partir de então ele engrenou. Ficou fora dos pontos na Alemanha, mas pontuou em todas as dez últimas provas e quebrou o jejum de dois anos sem pódios para fechar o ano com dois troféus e 122 pontos chorando no pódio do GP do Brasil. O Felipe do início daquele campeonato se assemelhava bastante ao Kimi Räikkönen de todo o ano de 2014: arrastava-se pela pista sem ser capaz de apresentar um desempenho constante e competitivo. Uma espiral negativa sem fim. Lento, pontuou apenas quatro em dez oportunidades mesmo vendo a bandeirada nove vezes, e estava fora do top-10 na prova em que abandonou.O que aconteceu no campeonato que terminou em 23 de novembro, em Abu Dhabi, foi completamente diferente.Em 2013, Massa voltou a ser rápido, embora tenha sido um tanto inconstante ao mesmo tempo. Em 2014, mostrou-se bastante rápido desde os testes de pré-temporada, faltando apenas conseguir completar as provas livre de problemas que fugissem ao seu controle.
A lista de contratempos enfrentada na primeira metade do campeonato foi grande:
GP da Austrália:
Tirado na largada por um Kamui Kobayashi sem freios
GP do Bahrein: Lutou pelo pódio, mas teve a estratégia de três paradas prejudicadas por uma intervenção do carro de segurança e foi sétimo
GP da China: Estava em sexto até o primeiro pit-stop, em que a Williams tentou montar as rodas do lado errado e demorou mais de um minuto
GP de Mônaco: No circuito mais apertado da temporada, foi acertado por Marcus Ericsson no fim do Q1 e teve de largar em 16º. Chegou em sétimo
GP do Canadá: Foi acertado por Sergio Pérez na última volta em disputa pela quarta posição
GP da Inglaterra: Viu-se sem ter para onde ir diante do carro de Kimi Räikkönen e abandonou após mais um acidente
GP da Alemanha: Envolveu-se em um acidente de corrida na largada com Kevin Magnussen
Essa imagem resume bem a primeira metade da temporada de Massa (Foto: AP)
Analisando o potencial de performance que a Williams tinha nessas corridas, levando em conta o desempenho que vinha sendo apresentado por Massa e o que Valtteri Bottas deu conta de fazer com o modelo idêntico, a conta que se faz é que toda essa sequência custou pelo menos 70 pontos ao brasileiro. Tal quantia já bastaria para que ele fechasse o campeonato confortavelmente na quarta colocação, à frente do companheiro de equipe.
Para piorar a impressão de que o ano era ruim, nas três corridas mais “normais”, suas apresentações não foram vistosas. Na Malásia, foi sétimo recebendo um pedido — que não acatou — para deixar Bottas passá-lo; na Espanha, passou muito tempo perseguindo outros carros e por causa disso sofreu com um desgaste de pneus fora do normal, fechando fora dos pontos, mas aprendendo a lição; na Áustria, largou na pole e terminou em quarto, perdendo o pódio para Bottas.
E o que mudou no segundo semestre? Basicamente, Massa conseguiu chegar ao final das corridas. A pilotagem já estava boa antes. Foram 104 pontos, feitos em sete de nove provas. Os dois resultados nulos desta segunda parte da disputa foram na Bélgica e na Rússia, e também catalisados por fatores alheios à sua pilotagem.
Em Spa, perdia dois segundos por volta para os adversários por causa de um pedaço de pneu de Lewis Hamilton que ficara preso no assoalho de seu carro. A Williams demorou dois pit-stops para perceber, e então a corrida estava jogada fora. Em Sochi, um problema no motor na classificação o deixou no fim do grid. Ele tentou arriscar uma estratégia diferente e até ia acompanhando o ritmo de Nico Rosberg, mas perdeu o pique na metade da prova e estagnou na 11ª posição. Em Monza, em Cingapura, no Brasil e em Abu Dhabi, foi muito bem.
Velocidade não faltou para Massa em 2014. O que continua faltando é fazer uma temporada inteira em alto nível, algo que não acontece desde 2008, e essa deve ser a missão para 2008.
Massa exibe troféu para fãs brasileiros após ser terceiro no GP do Brasil (Foto: AP)